X-Men: “A esperança me faz ver o melhor de mim e do outro”

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Alguns dias atrás, fui assistir ao novo filme da saga X-Men buscando diversão e fiquei realmente surpreendido. Além de muito bem feito, simpático, apresenta alguns temas que me chamaram a atenção e gostaria de falar um pouco.

Para quem ainda não assistiu ao filme, recomendo não continuar lendo este texto, pois contém alguns “spoilers” (preciso deles para ajudar um pouco na nossa reflexão). Bom, sigamos adiante.

Relembrando brevemente a trama: acontece num futuro, onde os mutantes são caçados por uma raça melhorada de Sentinelas – robôs gigantescos criados por Bolívar Trask (Peter Dinklage) nos anos 70. Os poucos sobreviventes, sob o comando do professor Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen), resolvem enviar Wolverine (Hugh Jackman), por ser o único que tinha os poderes necessários para esta missão, de volta ao ano 1973, para impedir que Raven/Mística (Jennifer Lawrence) cometa um grande erro que daria origem à existência dos poderosos Sentinelas e assim mudar completamente o destino infeliz dos mutantes e da raça humana. Lá, o herói das garras afiadas (ainda sem adamantium ) vai ter que convencer os jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender) a ajudá-lo. Para complicar um pouco mais as coisas, tanto Xavier quanto Erik encontram-se em fases difíceis de suas vidas.

Esperança: caminho para suportar a dor e ver além

Vamos agora à nossa reflexão sobre o filme. Primeiro, entendo como motor e fio condutor do filme é a esperança. Ela faz com que se resolvam vários conflitos que aparecem no filme (que, aliás, estão muito bem feitos e resolvidos, na minha opinião e de vários críticos) e que motiva inúmeros atos nobres e heroicos, tanto no passado (onde se desenrola a maior parte da trama) quanto no futuro.

Em um diálogo marcante entre o Xavier do passado e o do futuro, a esperança é apresentada como a chave para entender o sentido da dor e do sofrimento. O Xavier que o Wolverine encontra e tem que convencer a ajudá-lo em sua missão, havia sofrido muito e perdido a esperança. Ele havia abdicado até do seu grande dom, tomando uma solução criada pelo Hank (Fera), que recuperava o movimento das pernas em troca de perder os seus grandes poderes mentais.

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O experiente Xavier percebe o que afligia o jovem Charles: o medo de sofrer, a experiência de não conseguir suportar toda a dor que ele percebia nas vozes das pessoas que escutava em sua cabeça. Na verdade, o medo de suportar a sua própria dor: ter perdido Raven, a traição de Erik, o fracasso da escola e tantas outras. Então, o professor Xavier dá a ele o caminho para suportar a dor – a esperança:

“Por pior que pareça, essa dor te deixará forte. Se você se permitir sentir, aceitá-la. Isso te deixará mais forte do que possa imaginar. É o maior dom que temos. Suportar a dor deles sem nos destruirmos. E isso vem do poder mais humano de todos, a esperança. Por favor! Charles, precisamos que você volte a ter esperança”.

A esperança, enriquecida com a perspectiva cristã pode enriquecer ainda mais. Olhando para a Cruz, sabemos o quanto a esperança não decepciona e quanta dor Cristo suporta exatamente por acreditar no valor que temos. Ele suporta a dor para nos salvar e nos reconciliar.

Repercussão das nossas escolhas

Outro tema bem presente ao longo do filme é a repercussão que têm as escolhas que fazemos. Lembremos que o primeiro assassinato da Raven/Mística é que dá origem aos Sentinelas e, com isso, um futuro sombrio e o extermínio de quase todos os mutantes e da humanidade.

Erik também, ao longo de sua vida, faz diversas escolhas erradas e inclusive leva outros consigo para esse caminho equivocado. A Mística, um dos mutantes mais poderosos, é pessoalmente influenciada por ele e uma de suas mais fortes aliadas da saga.

Xavier também fez escolhas erradas. Abre mão do seu grande dom e, com isso, como se explicita no diálogo entre ele e Erik no avião, deixa de ajudar e guiar tantos outros iguais a ele.

A vida de Logan também é repleta de escolhas e situações difíceis. Quem viu os outros filmes de Wolverine lembra perfeitamente como sua vida é a encarnação do drama, sofrimento, escolhas difíceis que tem que fazer, pessoas amadas que perde. Quando Xavier entra em sua mente, percebe isso claramente.

É mais que evidente que esse tema está presente na vida de todos os personagens do filme, pois a liberdade é um dos maiores dons que temos. A nossa felicidade verdadeira é construída pelas escolhas corretas que fazemos em nossas vidas. Aproveitemos e sejamos livres de verdade, escolhendo responder ao Plano amoroso que Deus tem para as nossas vidas.

Ninguém está totalmente perdido. Todos merecem uma nova chance

Apesar de errarmos e, muitas vezes, fazermos escolhas equivocadas, com certeza não estamos perdidos. Todos merecem uma nova chance e podem mudar. Isso se vê claramente em um dos trailers do filme, na voz de Magneto:

“Estamos destinados a nos destruir? Ou podemos mudar quem somos e nos unir? O futuro já está determinado?”

Essa é uma das grandes apostas dos X-Men do futuro: que ao darem uma segunda chance a Xavier, Erik e Raven, eles possam mudar as suas escolhas e construir um futuro melhor. E quem eles enviam para isso? Wolverine, um dos que mais tiveram essa experiência. Quando Xavier acessa o “Cérebro” e pensa em desistir, Logan o faz lembrar disso:

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“Desculpe Logan, mas enviaram o homem errado”, diz Xavier. “Está certo. Sou mesmo. Na verdade era para ser você. Mas eu era o único que aguentaria a viagem. Não sei quanto tempo tenho aqui. Mas sei que daqui a um tempo, na verdade daqui a muito tempo, eu serei o seu aluno mais desamparado. E você destravou a minha mente. Mostrou-me o que era e o que podia ser”, responde Logan.

Wolverine é um dos personagens que mais me chamam a atenção por isso: apesar de sua fragilidade, dos seus erros, segue adiante. Ele teve essa segunda chance. E vejam quantas coisas boas pode realizar depois.

Ao entrar em sua mente a pedido de Logan, Xavier percebe claramente o drama dele. Mas Logan o convida a ver além. E isso é o que permitirá, de alguma forma, resolver um dos grandes conflitos do filme: Xavier reencontrar-se.

Penso que esse tema pode se resumir numa das frases presentes num intenso diálogo entre o Xavier do futuro e o do passado: “Não é porque alguém tropeça e se perde no caminho que quer dizer que está perdido para sempre

E não é isso o que, constantemente, Deus faz com a gente? Ele vê além dos meus pecados, minhas misérias e sempre me dá uma nova chance. Por que faz isso? Porque me ama e sabe tudo o que posso ser, se vivo de acordo com o que sou de verdade.

Confiança

A confiança também está muito presente na trama. Xavier confia plenamente em Wolverine para poder depositar todo o futuro em suas mãos. Xavier e Erik precisam confiar em Logan quando ele aparece no passado.

Gostaria de destacar um diálogo que acredito ser o que dá o desfecho e que, na verdade, coloca todo o futuro em jogo: o diálogo final entre o Xavier e a Mística.

Após ela atirar em Erik e estar pensando em matar Trask, enquanto os X-Men estão sendo aniquilados pelos Sentinelas no futuro, Xavier diz o seguinte para ela:

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“Tentei te controlar desde o dia em que nos conhecemos. E veja onde estamos. Tudo o que acontecer agora… está em suas mãos. Acredito em você, Raven”

Bom, o desfecho todos já conhecem…

Conclusão

Poderíamos seguir falando sobre tantos outros temas presentes no filme como a nobreza, a heroicidade, ser capaz de dar a vida por algo maior, saber quem somos e colocar os nossos dons a serviço dos demais, a necessidade que temos dos outros, dentre outros. Mas penso que com o que conversamos já dá para pensarmos bastante…

Queria terminar com um breve diálogo entre Xavier e Logan, antes de enviá-lo para o passado, que acredito que nos desafia:

“Preciso que você faça por mim o que já fiz por você um dia […] Direcione-me. Guie-me. Tenha paciência comigo”

Não é isso que Deus e tantas pessoas fizeram e seguem fazendo por nós? Parafraseando Cristo, faço o desafio a todos vocês: Vão e façam a mesma coisa! (Ver Lc 10,37)

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