Somos todos iguais na batalha de Deus?

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Podemos entender a vida cristã como uma batalha. É uma boa analogia porque no campo de batalha, assim como na vida cristã, existe um objetivo pelo qual lutamos, existem aliados, inimigos, dificuldades externas (como um terreno difícil) e internas (como uma traição). Comandantes e generais atuam ao seu modo juntamente com os cabos e soldados da primeira linha de combate para chegar onde se deseja. No calor do momento, o único que importa é conquistar o objetivo e muitos dão a vida por isso. Existem diferentes papéis, mas que estão unidos por uma mesma missão.

Em um cenário assim, idealizado, podemos entender que cada um tem seu lugar e que é importante para que se conquiste a desejada vitória. Mas, seguindo a analogia, o que acontece muitas vezes é que o soldado se questiona porque não é general, e o médico soldado se questiona porque gostaria de estar na linha de frente. O da linha de frente, por sua vez, pensa que o general está bem confortável longe da batalha e que ele é o verdadeiro herói dessa guerra. Indo agora para a vida cristã, não era mais ou menos isso que os discípulos de Jesus discutiam quando se perguntavam quem entre eles seria o maior?

Que existem diferentes papéis a desempenhar, é evidente. Podemos lembrar da famosa passagem em que Paulo descreve os diferentes dons: “Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas línguas. São todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? Fazem todos milagres? Têm todos a graça de curar? Falam todos em diversas línguas? Interpretam todos”? (1Cor 12, 27-30). Porque ficamos as vezes insatisfeitos com o nosso lugar?

Uma resposta fácil seria: É que não entendemos que todos os papéis são igualmente importantes e como somos vaidosos e queremos ser vistos como os melhores, buscamos os primeiros lugares, onde possamos certamente fazer o bem, desde que esse bem seja algo importante aos olhos de todos. É uma resposta que, ao meu ver, mistura elementos verdadeiros com outros que não são tão cristãos assim. Como assim?

É que nem todos os papéis são igualmente importantes. Essa é uma afirmação que pode parecer dura, mas me resulta evidente quando, por exemplo, comparo a minha missão com a da Virgem Maria, por exemplo. Não resta dúvidas de que a dela é muito superior à minha. Tanto que eu entendo meu papel nessa batalha como uma cooperação com o papel dela. No campo de batalha, seria insensato que o soldado da linha de frente pensasse que seu papel fosse mais importante do que o do general. Isso não significa dizer que o soldado seja menos digno, como pessoa, que seu superior. A minha dignidade é que Cristo derramou seu sangue na Cruz por mim, assim como o derramou para Maria e para toda a humanidade. Mas a missão dela é maior do que a minha, seu Sim, maior do que o meu e modelo para a minha própria resposta ao Plano de Deus.

Aqui poderíamos questionar porque Deus coloca esse aqui e aquele outro lá. Quais são os critérios? Porque distribui tantos talentos a uns e tão poucos a outros? Como saber se estamos no lugar certo ou não? Isso tudo é um mistério realmente e talvez a nossa insatisfação venha justamente porque não gostamos de não saber tudo. Podemos entender alguns aspectos, ver que tal pessoa é boa para isso ou aquilo, mas sempre teremos uma visão parcial com o nosso pequeno entendimento humano. Uma visão que comumente se mostra equivocada. Somente quando estivermos todos cara a cara com o Senhor, é que entenderemos melhor os seus desígnios. Mas precisamos confiar que Ele governa tudo com sua infinita sabedoria e misericórdia.

Independentemente da batalha que lutamos, estamos todos unidos em uma mesma missão.
A missão de fazer com que Cristo reine nos corações dos homens. E quanto mais fiéis formos àquilo que o Senhor nos encomenda, mais frutos ele poderá tirar das nossas ações, sejam elas grandes ou pequenas. É bom lembrar que o Senhor não condena os discípulos por quererem o primeiro lugar, simplesmente lhes diz que quem quiser ser o primeiro, que seja o último. Existe em ti um desejo por fazer mais? A resposta está em ser mais servidor de todos e não em buscar os primeiros postos. Essa é a grande aventura da vida cristã, que nos exige pensar de maneira completamente oposta ao que se pensa no mundo.

Por: João Antônio Johas Leão

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