Santa Maria e a virtude da mansidão nos mistérios dolorosos

1906

Hoje meditamos em companhia de Maria numa virtude tipicamente cristã, a mansidão. Disse Jesus no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5,4). Como bem sabemos as Bem-aventuranças não são apenas um retrato do próprio Cristo, mas também dos seus verdadeiros discípulos e Maria a primeira entre todos eles. Por isso, quem melhor que Ela para ajudar-nos hoje a conhecer e viver melhor esta virtude?

 

Primeiro mistério: a agonia

“E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra” (Lc 22,44)

A agonia nos mostra que Jesus não era indiferente a todo o sofrimento que haveria de passar. Mansidão não é indiferença, mera passividade diante do mal. O manso sofre por causa do mal, porque sabe que se trata de uma falta contra a caridade, e sabe que o mal é difusivo, ferindo não só a vítima do mesmo, mas também o próprio malfeitor, quem morre espiritualmente. Jesus sofre até suar sangue porque sabe que muitos, a pesar da sua entrega amorosa, fecharão os corações e não acolherão a salvação.

 

Segundo mistério: a flagelação

“O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: “É aquele que eu beijar; prendei-o”. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: “Salve Rabi!” e o beijou. Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui?” Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam” (Mt 26,48-50).

Jesus chama de amigo o seu traidor. Sabemos que Pedro, João e Tiago ensaiaram uma reação, chegando inclusive a ferir um dos membros da coorte que acompanhava Judas. Jesus, porém, repreende os discípulos. Não é assim que o Reino de Deus será instaurado, pela espada e pela violência. Jesus sabe que seu Reino não é deste mundo. A mansidão é a marca do autêntico cristão. No cumprimento da missão ele nunca lança mão de métodos violentos, da força bruta. Pelo contrário, ele é profundamente reverente com a liberdade das pessoas, mesmo quando elas fecham seus corações a Deus.

 

Terceiro mistério: a coroação com a coroa de espinhos

“Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs os poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou” (Lc 1,49b-52).

Os soldados que coroam Jesus veem nele um derrotado, mais um judeu dominado, membro da ralé que está longe dos centros políticos de poder e decisão. É ridículo que alguém possa ter visto nesse homem, prestes a ser crucificado, um Rei. Contrasta, porém, a sua atitude, com a do centurião, que presenciou a morte de Jesus e disse: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15,39), quiçá impactado pela serenidade, pela paz que em todo momento Jesus transmitia, pelas suas palavras, sempre de perdão e compaixão, até para seus algozes.

 

Quarto mistério: caminho até o Calvário carregando a Cruz

“Então eles tomaram Jesus. E ele saiu, carregando a sua cruz, e chegou ao chamado “Lugar da Caveira”- em hebraico chamado Gólgota – onde o crucificaram” (Jo 19,16-18).

Diante das provas da vida, muitas vezes nos revoltamos e soltamos nossa Cruz. Outras vezes a carregamos sem ocultar quanto nos incomoda, fazendo questão de que os demais percebam. Jesus, manso e humilde de coração, não tem esta atitude. Ele não somente é o justo, o Cordeiro sem mancha, mas é o próprio Deus. Os pecados que ele carregou são os nossos, nenhum dele. E ele o faz sem reclamar. Em nosso caso, basta que a exigência aumente um pouquinho para além dos nossos cálculos e já reclamamos. Peçamos ao Senhor corações pacientes, para suportar as provações da vida por amor, como Ele fez.

 

Quinto mistério: a mansidão é manifestação do amor

“Chegando a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19,33-34).

Muitas vezes quando alguém nos ofende, quando enfrentamos oposições ou dificuldades no apostolado, tendemos a fechar-nos em nós mesmos. Basta que alguém nos agrida de alguma forma para que imediatamente levantemos as defensas, ou até mesmo revidemos com igual ou maior violência. Esta não é a atitude cristã, não é o que Cristo nos ensina. A imagem do Sagrado Coração nos lembra disso. Cristo não esquivou seu coração à lança que fez brotar sangue e água. Maria tampouco esquiva o coração da espada da dor. O segredo de essa atitude de bondosa perseverança é o amor até o extremo de Cristo na Cruz. Se o amor não é o que fundamenta tudo em nossa vida cristã, terminaremos vencidos pelo inimigo, até mesmo trabalhando para ele sem perceber. Peçamos ao Senhor corações mansos e humildes como o dele e como o da sua Mãe. Essa mansidão nos garante não só a vitória no Céu, mas já aqui na terra.

Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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