Perseverança – Mt 24, 13

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“Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.” – Mt 24, 13

A Igreja na época de Mateus passava por algumas dificuldades: aparição de numerosos hereges, desavenças internas da comunidade, corrupção moral e, por causa dela, um esfriamento do espírito de amor, do fervor religioso, uma grande extensão e alguma apostasia da fé cristã. Com essas dificuldades e em pleno discurso sobre o fim do mundo, Mateus faz uma comovedora exposição do que realmente interessa aos discípulos de Jesus. Apesar dos perigos de fora e de dentro é possível se salvar. Para conseguir só se requer a perseverança e a paciente firmeza. Mas quem se mantenha firme até o final, esse se salvará. A salvação do indivíduo é obra de Deus, nele devemos nos abandonar com toda a confiança, porque para Deus tudo é possível.

Se por um lado se sabe que haverá muita tribulação para os discípulos, o versículo 14 nos traz a segurança de que o Evangelho será, com toda certeza, anunciado ao mundo inteiro. Todos terão a oportunidade de conhecer Jesus e o Reino de Deus. Somente depois virá o fim. Ainda que muitos, inclusive aqueles que tem por missão anunciar o Reino, esfriem em seu ardor e até morram espiritualmente, a mensagem de Jesus vai encontrar pessoas que estão dispostas a entregar tudo para transmitir essa mensagem do amor de Deus pelos homens.

A palavra grega aqui traduzida por perseverar é ὑπομένωes, que é, ao princípio, eticamente neutra, ou seja, é um aguentar firme na tribulação, ser forte. Não necessariamente precisamos estar contentes ou suportar a tribulação com alegria como fazem os grandes mártires que vão cantando para a fogueira. Essa virtude dos mártires está mais ligada a outra palavra grega que é parecida, mas tem um matiz diferente, ὑπομονή, que São Pedro usa na sua escada espiritual de virtudes. A ὑπομονή é uma paciência esperançada, porque confia e espera nas promessas de Deus. Ao meu ver, essa virtude é mais perfeita que simplesmente aguentar, resistir as tribulações. Mas é interessante ver que Deus, para a salvação no último dia, pede apenas que mantenhamos a fé, ainda que seja a duras penas.

O Catecismo reforça a importância da fé perseverante no número 161.

“Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n´Aquele que O enviou para nos salvar. (…) ninguém que não “persevere nela (na fé) até ao fim poderá alcançar a vida eterna”.

No número 162 o catecismo nos lembra que a fé é um dom precioso de Deus e que podemos perder esse dom inestimável, como nos diz São Paulo:

“Combate o bom combate, guardado a fé e a boa consciência; por se afastarem desse princípio é que muitos naufragaram na fé.”

Continua o Catecismo:

“Para viver, crescer e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos  que pedir ao Senhor que no-la aumente; ela deve “agir pela caridade” (Ga 5,6), ser sustentada pela esperança e permanecer enraizada na Igreja.”

Na carta aos Romanos encontramos um fruto imediato da perseverança: “A aflição produz perseverança e a perseverança produz caráter. ”  Na vida não faltam momentos de aflição. Podemos, no entanto, aproveitar os momentos de aflição para forjar o caráter de santos cristãos.

Jó é um bom exemplo das Sagradas Escrituras, além do Senhor Jesus, de alguém que perseverou até o fim por mais que estivesse rodeado de aflições. Por outro lado é bom lembrar que as aflições que estão por vir no fim do mundo serão muito maiores que as enfrentadas por Jó. Mas com a Graça de Deus é possível superar, porque “em favor dos escolhidos se abreviarão aqueles dias.”

 

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