Domingo de Pentecostes: “Ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar”

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I. A PALAVRA DE DEUS

At 2, 1-11:Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar. ”

Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, veio do céu um barulho  como se fosse uma forte ventania,  que encheu a casa onde eles se encontravam.3 Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles.4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas,conforme o Espírito os inspirava.

5 Moravam em Jerusalém judeus devotos,de todas as nações do mundo.6 Quando ouviram o barulho,juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos,pois cada um ouvia os discípulosfalar em sua própria língua.7 Cheios de espanto e de admiração, diziam:

– ‘Esses homens que estão falando não são todos galileus?8 Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?9 Nós que somos partos, medos e elamitas,habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia,do Ponto e da Ásia,10 da Frígia e da Panfília,do Egito e da parte da Líbia, próxima de Cirene,também romanos que aqui residem;11 judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nósos escutamos anunciarem as maravilhas de Deusna nossa própria língua!’

Sal 103,1.24.29-31.34:Enviai o vosso Espírito Senhor e da terra toda a face renovai.”

1a Bendize, ó minha alma, ao Senhor!
Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
24a Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras
24c Encheu-se a terra com as vossas criaturas!

29b Se tirais o seu respiro, elas perecem
29c e voltam para o pó de onde vieram.
30 Enviais o vosso espírito e renascem
e da terra toda a face renovais.

31 Que a glória do Senhor perdure sempre,
e alegre-se o Senhor em suas obras!
34 Hoje seja-lhe agradável o meu canto,
pois o Senhor é a minha grande alegria!

1Cor 12,3-7.12-13:Fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo.”

3b Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo.

4 Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito.5 Há diversidade de ministérios,mas um mesmo é o Senhor.6 Há diferentes atividades, mas um mesmo Deusque realiza todas as coisas em todos.7 A cada um é dada a manifestação do Espíritoem vista do bem comum.

12 Como o corpo é um, embora tenha muitos membros,e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos,formam um só corpo,assim também acontece com Cristo.13 De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos oulivres, fomos batizados num único Espírito,para formarmos um único corpo,e todos nós bebemos de um único Espírito.

Jo 20,19-23:Assim como o Pai me enviou também eu vos envio: Recebei o Espírito Santo!”

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana,estando fechadas, por medo dos judeus,as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles,disse:

– ‘A paz esteja convosco’.

20 Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

21 Novamente, Jesus disse:

– ‘A paz esteja convosco.Como o Pai me enviou, também eu vos envio’.

22 E depois de ter dito isto,soprou sobre eles e disse:

– ‘Recebei o Espírito Santo.23 A quem perdoardes os pecados,eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes,eles lhes serão retidos’.

II. COMENTÁRIOS

Antes de ser uma festa cristã, “pentecostes” era celebrado como uma importante festa judia de origem agrícola. Os judeuschamavam-na também “festa das semanas” ou “festa das primícias” (ver Ex 23,16; 34,22), pois nela se apresentavam ao Senhor os primeiros frutos colhidos sete semanas depois do início da ceifa. Era uma festa de ação de graças a Deus pelas bênçãos recebidas atravé dos frutos do campo.Com o tempo converteu-se em uma festa que comemorava a promulgação da Lei no monte Sinai. Como toda festa devia expressar exultante alegria e regozijo. «Em presença de Yahveh teu Deus te regozijarás… porque Yahveh teu Deus te abençoará em todas as tuas colheitas e em todas as tuas obras, e serás plenamente feliz.» (Ver Dt 16,9-15; Is 9,2)

São Lucas (1ª. leitura) assinala que foi nessa festa que o Espírito prometido pelo Senhor Jesus foi enviado sobre os Apóstolos: «Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar». Nós, cristãos, também chamamos de Pentecostes essa festa, porque o envio do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo em torno de Santa Maria aconteceu cinquenta dias depois da Ressurreição do Senhor Jesus.

Deste modo estabelece-se uma íntima relação entre esses dois acontecimentos: o dom do Espírito ao homem é “a primícia da colheita”, o precioso fruto da Páscoa. Este Dom divino realiza a nova criação, é dom para a reconciliação do ser humano, para o perdão de seus pecados, para sua transformação interior, para sua configuração com o Filho, para que com um novo coração (ver Ez 36,26), possa amar como Cristo mesmo, com seus mesmos amores: ao Pai no Espírito, a Maria sua Mãe e a todos os irmãos humanos.

A Primícia da Páscoa, o dom do Espírito, tinha sido entregue aos discípulos já na primeira vez em que o Senhor ressuscitado apareceu no meio deles (Evangelho). Naquela ocasião o Senhor solenemente tornou-os participantes de sua missão: «Como o Pai me enviou, também eu vos envio». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoarrdes, eles lhes serão retidos.» O Espírito, Dom do Pai e do Filho, é fruto da Morte e Ressurreição do Senhor. Os ministros do Senhor, revestidos com este poder do Alto, são os chamados a levar os frutos de sua obra reconciliadora a toda a humanidade.

Esta missão foi confiada definitivamente a Sua Igreja antes de subir ao Céu, quando disse a seus Apóstolos: «Ide pelo mundo inteiro» (Mc 16, 15) «batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo.» (Mt 28, 19 20). As últimas palavras que o Senhor dirige a seus apóstolos antes de desaparecer definitivamente de sua vista são palavras de envio.

Para poder levar a cabo esta missão fundamental, o Senhor, antes de sua Ascensão, tinha dadoaos Onze instruções precisas para que esperassem em Jerusalém o Dom do Alto. Disse-lhes: «Recebereis a força (dynamis) do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e SaMaria, e até os limites da terra» (At 1, 5.8; ver Lc 24,49). Esta dynamis ou força prometida pelo Senhor os trasformará em valentes e audazes apóstolos e testemunhas do Senhor, assim como em Mestres da verdade que Ele é e ensinou. Os apóstolos não poderiam cumprir esta missão, que excede absolutamente a suas forças e capacidades, enquanto não recebessem esta “força do Alto”.

Segundo suas instruções permaneceram em Jerusalém, reunidos no Cenáculo, perseverando na oração em companhia de Santa Maria, até que chegou o dia em que «apareceram umas línguas como de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito os inspirava» (At 2, 2 4). O Espírito Santo se apresenta assim como o grande protagonista da evangelização.

E se antes a diversidade de línguas tinha dividido os homens (Ver Gen 11,1-9), agora o dom do Espírito permitia que os que falavam diversas línguas escutassem os apóstolos proclamar as maravilhas de Deus em sua própria língua. O Espírito Santo é o Dom que reconcilia, que une em uma mesma comunhão e em um mesmo Corpo a quem o recebe embora sejam muito diferentes entre si. (2ª. leitura)

As imagens que são Lucas utiliza para indicar a irrupção do Espírito Santo — o vento e o fogo — aludem ao Sinai, onde Deus se revelou ao povo de Israel e tinha-lhe concedido sua aliança (cf. Ex 19, 3 ss). A festa do Sinai, que Israel celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, era a festa do Pacto. Ao falar de línguas de fogo (cf. At 2, 3), São Lucas quer apresentar Pentecostes como um novo Sinai, como a festa do novo Pacto, no qual a aliança com Israel estende-se a todos os povos da terra. A Igreja é católica e missionária desde seu nascimento. A universalidade da salvação fica significativamente destacada mediante a lista das numerosas etnias de quem escuta o primeiro anúncio dos Apóstolos (cf. At 2, 9-11).

O povo de Deus, que tinha encontrado no Sinai sua primeira configuração, amplia-se hoje até superar toda fronteira de raça, cultura, espaço e tempo. Diferente do que aconteceu com a torre de Babel (cf. Gn 11, 1-9), quando os homens, que queriam construir com suas mãos um caminho para o céu, tinham acabado por destruir sua própria capacidade de compreender-se reciprocamente, em Pentecostes o Espírito, com o dom das línguas, mostra que sua presença une e transforma a confusão em comunhão.

O Espírito Santo, fonte de comunhão

Catequese de 29 de julho de 1998

  1. Os Atos dos Apóstolos nos mostram a primeira comunidade cristã unida por um forte vínculo de comunhão fraterna: «Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam as suas propriedades e os seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.» (At 2, 44 45). Não resta dúvida de que o Espírito Santo está na origem desta manifestação de amor. Sua efusão em Pentecostes põe as bases da nova Jerusalém, a cidade construída sobre o amor, completamente oposta à velha Babel.

Segundo o texto do capítulo 11 do Gênesis, os construtores de Babel tinham decidido edificar uma cidade com uma grande torre, cujo topo chegasse até o céu. O autor sagrado vê nesse projeto um orgulho insensato, que leva à divisão, à discórdia e à incomunicabilidade.

Pelo contrário, em Pentecostes os discípulos de Jesus não querem escalar orgulhosamente o céu, em vez disso, abrem-se humildemente ao Dom que desce do alto. Se em Babel todos falam a mesma língua, mas terminam por não entender-se, em Pentecostes falam-se línguas diversas, e, no entanto, todos se entendem muito bem. Este é um milagre do Espírito Santo.

  1. A operação própria e específica do Espírito Santo já no seio da santíssima Trindade é a comunhão. (…)

III. LUZES PARA A VIDA CRISTÃ

«Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso!» (Lc 12,49). São estas as palavras que o Senhor pronunciou na perspectiva de sua próxima Paixão, Morte e Ressurreição. E qual seria esse fogo que queria lançar sobre a terra, senão o de seu Espírito, o Fogo do Amor Divino? Sim! Com esse Fogo é que se inflamam e ardem os corações no amor a Deus e aos irmãos humanos com o mesmo amor de Cristo!

E como este Dom inflama nossos corações? Não é acaso pela pregação? Com efeito, é por isso que São Francisco de Sales escrevia em seu prólogo ao Tratado de Amor a Deus que quando o Senhor Jesus «quis iniciar a pregação de sua Lei, enviou sobre os discípulos reunidos, aqueles que Ele tinha escolhido para este ministério, uma espécie de línguas de fogo, mostrando deste modo que a pregação evangélica estava inteiramente destinada a atear fogo nesses corações.» Essa é a experiência dos discípulos de Emaús, que depois de reconhecer o Senhor na fração do Pão, murmuraram entre si: «Não estava ardendo nosso coração quando nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32).

Assim, pois, é pela pregação evangélica que se inflama este fogo nos corações. E do mesmo modo, os discípulos recebem estas línguas de fogo, para que eles mesmos, com a Santa pregação, pudessem seguir o insigne exemplo do Mestre, que explicando as Escrituras e o que elas diziam sobre sua Pessoa, deixou ardendo com este fogo santo os corações de seus discípulos.

Em Pentecostes os discípulos receberam em forma de línguas de fogo este Dom e imediatamente, inflamados pelo ardor apostólico, passaram a pregar com parrésia[1], com ardor e coragem, a Boa Nova que tinha que inflamar o mundo inteiro. Cabe a nós, hoje, implorar e acolher esse Dom divino! Cabe a nós, hoje, deixar-nos inflamar com esse Amor que é derramado cada dia em nossos corações pelo Espírito Santo (ver Rom 5,5), para que ardendo de zelo pelo Evangelho nos disponhamos a transformar os corações humanos apenas tocando-os com essas chamas em forma de línguas de fogo!

É hora de evangelizar com novo entusiasmo e ardor, com novos métodos e meios, com empenho e perseverança, sem medo nem temor!

Mas neste empenho por evangelizar não podemos deixar de lado uma verdade essencial: Ninguém dá o que não tem. Se o fogo do Espírito não arder primeiro em meu coração, como vou comunicar esse fogo e inflamar outros corações? Meu primeiro campo de apostolado sou eu mesmo, portanto, devo preocupar-me seriamente em ter uma vida espiritual intensa, uma vida de intensa relação com o Espírito, condição sem a qual não poderá arder em nossos corações esse fogo que impulsiona ao apostolado valente e audaz. Não descuidemos de nossa oração diária e perseverante! Não deixemos de lado a leitura perseverante e a meditação da Sagrada Escritura, especialmente das palavras e vida do Senhor Jesus! Não deixemos de visitar o Senhor no Santíssimo! Não deixemos de participar de seu sacrifício reconciliador cada Domingo na Santa Missa! Não deixemos de crescer em nosso amor filial a Santa Maria, para que em união de oração com Ela tenhamos as necessárias disposições para poder acolher o Espírito em nós!

IV. PADRES DA IGREJA

São Gregório Magno: «Todo crente recebe o ofício de pregador, para anunciar a Boa Nova. Mas, se não pregar, não será semelhante a um pregador mudo? Por esta razão o Espírito Santo quis assentar-se, já desde o começo, em forma de línguas sobre os pastores; assim dava a entender que imediatamente fazia pregadores de si mesmo aqueles sobre os quais tinha descido».

Clemente Romano: «Pois bem, (os Apóstolos) tendo recebido o mandato, plenamente certos da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e reafirmados na Palavra de Deus, saíram cheios da certeza do Espírito Santo para dar a boa nova de que o Reino de Deus estava por chegar. E assim, apregoando a mensagem em povoados e cidades, estabeleceram aos que eram primícias entre eles, provando-os no espírito, como bispos e diáconos dos que haveriam de crer».

São Cirilo de Alexandria: «Já tinham sido já os desígnios de Deus sobre a terra; mas era expressamente necessário que fôssemos feitos participantes da natureza divina daquele que é a Palavra, isto é, que nossa vida anterior fosse transformada em outra diversa, começando assim para nós um novo modo de vida segundo Deus, o que não podia realizar-se senão pela comunicação do Espírito Santo. E o tempo mais indicado para que o Espírito fosse enviado sobre nós era o da partida de Cristo nosso Salvador. Com efeito, enquanto Cristo conviveu visivelmente com os seus, estes experimentavam — conforme é minha opinião — seu amparo contínuo; mas, quando chegou o tempo em que tinha que subir ao Pai celestial, então foi necessário que continuasse presente, no meio de seus adeptos, pelo Espírito, e que este Espírito habitasse em nossos corações, para que nós, tendo-O em nosso interior, exclamássemos confiantemente: “Pai”, e nos sentíssemos com força para a prática das virtudes e, além disso, poderosos e invencíveis frente aos ataques do demônio e às perseguições dos homens, pela posse do Espírito, que tudo pode».

São Basílio Magno: «Quem, tendo ouvido os nomes que se dão ao Espírito, não sente levantado seu ânimo e não eleva seu pensamento para a natureza divina? Já que é chamado Espírito de Deus e Espírito de verdade que procede do Pai; Espírito firme, Espírito generoso, Espírito Santo são seus apelativos próprios e peculiares. Para ele dirigem seu olhar todos os que sentem necessidade de santificação; para ele tende o desejo de todos os que levam uma vida virtuosa, e seu sopro é para eles como uma rega que os ajuda na consecução de seu fim próprio e natural. Fonte de santificação, luz de nossa inteligência, ele é quem dá, de si mesmo, uma espécie de claridade à nossa razão natural, para que conheça a verdade. Inacessível por sua natureza, faz-se acessível por sua bondade; tudo preenche com seu poder, mas se comunica somente aos que são dignos disso, e não a todos na mesma medida, mas distribui seus dons na proporção da fé de cada um».

V. CATECISMO DA IGREJA

Os Apóstolos perseveravam na oração junto com Santa Maria

  1. Depois da Ascensão do seu Filho, Maria «assistiu com suas orações aos começos da Igreja». E, reunida com os Apóstolos e algumas mulheres, vemos «Maria implorando com as suas orações o dom daquele Espírito, que já na Anunciação a cobrira com a Sua sombra».
  2. A oração de Maria é-nos revelada na aurora da plenitude dos tempos. Antes da encarnação do Filho de Deus e da efusão do Espírito Santo, a sua oração coopera de um modo único com o desígnio bene­volente do Pai, quando da Anunciação para a concepção de Cristo e quando de Pentecostes para a formação da Igreja, corpo de Cristo.
  3. No termo desta missão do Espírito, Maria torna-se a «Mulher», a nova Eva «mãe dos vivos», Mãe do «Cristo total». É como tal que Ela está presente com os Doze, «num só coração, assíduos na oração» (At 1, 14), no alvorecer dos «últimos tempos», que o Espírito vai inaugurar na manhã de Pentecostes, com a manifestação da Igreja.

O dia de Pentecostes

  1. No dia de Pentecostes (no final das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo completou-se com a efusão do Espírito Santo que Se manifestou, Se deu e Se comunicou como Pessoa divina: da sua plenitude, Cristo Senhor derrama em profusão o Espírito.
  2. «Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para cumprir na terra, no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para que santificasse continuamente a Igreja» (LG 4). Foi então que «a Igreja foi publicamente manifestada diante de uma grande multidão» e «teve o seu início a difusão do Evangelho entre os gentios, por meio da pregação» (AG 4). Porque é «convocação» de todos os homens à salvação, a Igreja é, por sua própria natureza, missionária, enviada por Cristo a todas as nações, para de todas fazer discípulos (ver Mt 28, 19-20; AG 2, 5-6).
  3. No dia de Pentecostes, o Espírito da promessa foi derramado sobre os discípulos, «reunidos no mesmo lugar» (At 2, 1), enquanto O esperavam, «todos […] perseveravam unânimes na oração» (At 1, 14). O Espírito que ensina a Igreja e lhe recorda tudo quanto Jesus disse (ver Lc 24, 27.44) vai também formá-la na vida de oração.

O Espírito Santo baixou em forma de línguas de fogo

  1. O fogo [ …]. simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo. O profeta Elias, que «apareceu como um fogo e cuja palavra queimava como um facho ardente» (Eclo 48, 1), pela sua oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca. João Batista, que «irá à frente do Senhor com o espírito e a força de Elias» (Lc 1, 17), anuncia Cristo como Aquele que «há de batizar no Espírito Santo e no fogo» (Lc 3,16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: «Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso!» (Lc 12, 49). É sob a forma de línguas, «uma espécie de línguas de fogo», que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si (At 2,3-4). A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo. «Não apagueis o Espírito!» (1 Ts 5, 19).

O Espírito Santo comunicado a toda a Igreja

  1. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias esperado, em vista da sua missão salvífica. A descida do Espírito Santo sobre Jesus, em seu batismo por João, foi o sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus. Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá «sem medida» (Jo 3, 34).
  2. Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no Messias: devia ser comunicada a todo o povo messiânico. Repetidas vezes, Cristo prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de Páscoa (Jo 20, 22) e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes. Cheios do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar «as maravilhas de Deus» (At 2, 11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos tempos messiânicos. Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e se fizeram batizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo.
  3. «A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para completar a graça do Batismo. É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os Batismos e também sobre a imposição das mãos (Heb 6, 2). A imposição das mãos é justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça de Pentecostes» (S.S. Paulo VI).

VI. TEXTOS DA ESPIRITUALIDADE SODALITE

“Comentando esta passagem, e em sintonia com o ensinamento da Constituição Lumen Gentium, João Paulo II diz: ‘Na economia da graça atuada sob a ação do Espírito Santo, dá-se uma particular correspondência entre o momento da Encarnação do Verbo e o do nascimento da Igreja. A pessoa que une estes dois momentos é Maria: Maria em Nazaré e Maria no Cenáculo de Jerusalém…Assim, a que está presente no mistério de Cristo como Mãe, faz-se — por vontade do Filho e por obra do Espírito Santo — presente no mistério da Igreja. Também na Igreja continua sendo uma presença materna’. Maria, orando com os Apóstolos e com os discípulos de seu Filho, aparece como aquela que intercede para a Igreja o dom do Espírito Santo que tem que impulsionar os crentes na missão apostólica. Nesta cena, talvez melhor que em nenhuma outra, aparece como a Mediadora do Espírito Santo para seus filhos, e como a que em seu próprio ser reflete a intercessão da Igreja.

O que tudo isso diz para nós? A mediação e intercessão de Maria nos fala de uma realidade maravilhosa, que é a do amor sempre presente e implorante. Nada há tão humano como o fato da mediação…

A mediação de Maria, subordinada à de Cristo, encaixa plenamente na experiência de todo homem. O amor maternal é inerente à existência humana, a partir do momento em que ser homem é ter mãe. E é o amor de mãe que nos pôs no mundo. Assim, por uma Mãe (= Maria) recebemos a reconciliação, sem a qual seguiríamos afundados no pecado. E Maria pede, suplica, intercede por todas as nossas necessidades, assim como o fez nas bodas de Caná, com o amor humanamente mais intenso, que é o amor de mãe. Temos que responder a este maravilhoso dom, reconhecendo-o e pondo-o em pratica. ‘Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores…’ dizemos, agora e sempre, proclamando-a nossa Mediadora e Intercessora”.

(Mons. José Antonio Eguren Anselmi, SCV, A Virgem Maria na vida do cristão hoje, em Maria, Estrela da Nova Evangelização. Congresso Mariano. Vida e Espiritualidade, Lima 2003)

[1]Parrésia. De “parrhesia” = Fazer com confiança afirmações arriscadas; atrevimento oratório; simplicidade sem rodeios, confiança filial, jovial segurança, audácia humilde, certeza de ser amado. (cf CIC 2778)

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