Caminho para Deus 226: Por que celebramos o nascimento de Jesus?

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Há mais de dois mil anos, uns reis magos vindos do Oriente decidiram pegar uns presentes e sair em busca de um menino que estava a ponto de nascer.  Eles não conheciam o menino nem tampouco seus pais, mas os presentes que levavam eram próprios para um rei, já que sabiam que quem ia nascer seria o rei dos judeus.

Hoje, a realidade guarda muita similitude com aquele momento histórico.  Todas as ruas vão sendo ornamentadas festivamente e, sem nos darmos conta, os presentes vão virando os protagonistas deste tempo.  As casas comerciais têm as melhores vendas do ano e a publicidade inunda todos os rincões da cidade, nos convidando a comprar um presente para cada um de nossos seres queridos.  Sabemos que é um tempo importante pelo “nascimento de um rei”, mas muitas vezes esquecemos quem é esse Rei e por que é tão importante celebrar seu nascimento, inclusive dois mil anos depois de seu nascimento.

Por isso, neste Ano da Fé, é bom nos perguntarmos: Por que é importante celebrar o nascimento de Jesus?  Que relação esse nascimento tem com minha vida pessoal e com a vida da humanidade?

Seguindo o sinal da estrela

Depois do pecado original a experiência de dor, ruptura e sofrimento se fez cotidiana, e o homem clamava a Deus pela salvação do pecado.  No grande marco da história da salvação, o Povo de Israel foi eleito por Deus para ser destinatário de uma promessa: Deus não deixara os homens sozinhos, mas os libertaria do pecado e da morte, dar-lhes-ia a salvação.  Por anos e anos os profetas anunciaram de muitas maneiras que “Deus estava perto” e que logo seria enviado um Salvador.

Embora os reis magos não pertencessem ao povo judeu, viram naquela misteriosa estrela um sinal do cumprimento das profecias e decidiram colocar-se em marcha.  A estrela na tradição cristã é um símbolo da fé, que nos guia em nossa peregrinação pelas gargantas escuras deste mundo ao feliz encontro com o Senhor.

Seguindo a estrela, os reis encontraram a pobre aldeia de Belém, onde viram que outra promessa-sinal se cumprira: o Salvador anunciado pelos profetas tinha nascido de uma Virgem, cumprindo assim as palavras do profeta Isaías: «Eis que uma virgem está grávida e dará à luz um filho»[1]O recém-nascido não era mais um rei do povo judeu, era o Salvador que Deus tinha enviado para redimir a humanidade.  Era o Emmanuel, o «Deus conosco»[2], o Filho do Pai que vinha à terra para reconciliar os homens com Deus.  Era algo inaudito, pois Deus, o Todo-poderoso e Eterno, a quem ninguém podia ver, fez-se um de nós, assumindo a fragilidade e debilidade da condição humana em tudo menos no pecado.

Em Belém, há dois mil anos, ocorria assim algo que superava qualquer expectativa, algo que ia além do que qualquer profeta, mestre ou rei das inumeráveis culturas e povos podia imaginar: Deus se fazia presente no mundo por meio de seu Filho.

Trata-se de um mistério que nunca vamos poder compreender totalmente.  Muitas vezes não somos capazes de sopesar a importância que tem o mistério da Encarnação para nossa própria felicidade.  Deus é “Alguém” que não só tudo pode e tudo sabe, como saiu ao nosso encontro por amor.  Ele nos conhece plenamente de maneira pessoal e é Alguém com quem nós podemos nos relacionar e entabular uma amizade real.  Deus se fez homem para nos reconciliar e nos mostrar quem somos realmente.  Ele se encarnou por todos e cada um de nós.  Como responder a este imenso presente que Deus nos dá?  Como responder a este dom?

Crer em Deus e confiar em Deus

Não é difícil constatar que estamos em um mundo onde há constantemente grandes progressos tecnológicos e científicos.  Isto nos poderia levar a pensar que o mundo progride para o bem.  A medicina, os meios de comunicação, as possibilidades econômicas, ofereceriam uma certa segurança ante o futuro.  O desenvolvimento científico e tecnológico suscita em algumas pessoas um prejulgamento frente à fé.  Para muitos é cada vez mais difícil acreditar no que não se pode ver, no que não se pode quantificar nem constatar por meio dos sentidos.

Por outra parte, em não poucas situações os mesmos “progressos” conseguidos mostram seus limites e carências.  Muitas vezes, a evolução tecnológica, em lugar de servir ao desenvolvimento humano e melhorar as relações entre as pessoas, converte-se em um instrumento de opressão, de disparidades e até de catástrofes incontroláveis.  Cresce assim em nós uma certa insatisfação que nos leva a constatar que nesses progressos materiais não estão todas as respostas.  No fundo de nossos corações nos damos conta de que não podemos viver só das coisas materiais mas «temos necessidade de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas cotidianos»[3]

Isso foi o que descobriu e viveu a Virgem em Nazaré. Sua abertura a Deus tornou possível que o Senhor Jesus se encarnasse para viver, morrer e ressuscitar por nós.  Ela não só acreditou em Deus, mas também confiou em Deus, e por isso não duvidou em pronunciar aquele “Faça-se” que deu lugar à nossa salvação.  Assim a Mãe nos ensinou que também nós devemos viver «uma confiante entrega a um “Tu” que é Deus, o qual me confere uma certeza distinta, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exato ou da ciência»[4].

Santa Maria crê em Deus não porque precisa inventar para si algo para explicar o que não entende.  Crê porque, em abertura à graça divina, reconhece a Deus como fundamento definitivo de toda a sua vida, reconhece a Deus que é Amor e que «não pode enganar-se nem nos enganar»[5]Ela tem a certeza de que Deus existe e que ama aos seus, e que Ele atua para salvar a humanidade.  A Virgem Maria nos ensina que a fé não é uma irracionalidade ou um absurdo, e sim uma resposta a Alguém.  É uma resposta a Deus que quer caminhar junto a nós, encontrar-se cara a cara conosco, para conduzir-nos ao encontro pleno e definitivo com Ele.  Nossa fé não é crença em uma deidade abstrata, é fé em Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que se entregou por nós, homens, para nossa salvação.

Minha resposta de fé no Senhor Jesus

Podemos ver em Santa Maria a maneira de responder ao imerecido presente que Deus nos deu.  Ela é a mulher da fé viva que se manifesta em um “Faça-se” amoroso.  Nossa Mãe nos ensina que a fé é um «ato com o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e me ama; é adesão a um “Tu” que me dá esperança e confiança»[6]Esse amor de Deus por cada um de nós se manifesta de modo privilegiado ao longo de toda a vida de Jesus.  De fato, «Deus revelou que seu amor para com o homem, para cada um de nós, é sem medida: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem, mostra-nos no modo mais luminoso até que ponto chega este amor, até o dom de si mesmo, até o sacrifício total»[7].

Apesar de os reis magos terem visitado o portal de Belém há mais de dois mil anos, e portanto não podermos saber como se sentiram nem como se maravilharam, sabemos que continuamos recordando aquele dia maravilhoso, aquele dia de salvação no qual nasceu nosso Reconciliador.  O homem recebeu do Pai o melhor dos presentes: seu Filho unigênito para que seja seu autêntico amigo.  Nesse dia, o Pai nos deu Jesus de presente.

Como responder a este imenso dom?  Certamente a fé é a resposta que o homem está convidado a dar ao dom recebido.  Cremos que Deus se fez homem por nossa salvação.  Nossa fé, entretanto, não pode ser uma fé passiva ou tímida.  A fé com que devemos responder ao imenso presente do Pai nos leva a nos entregar a Deus amando-o com todo o nosso coração e todas as nossas forças.  Por isso parte fundamental dessa resposta supõe conhecer o que Deus fez por nós, entesourar — como o fez Santa Maria — todas aquelas maravilhas com as quais Deus nos foi abençoando com o passar do tempo.  Nada disto será suficiente, entretanto, se nessa entrega não transformamos em vida o amor que Deus derramou em nossos corações.  A resposta de fé nos leva à entrega amorosa, a amar a Deus e a nossos irmãos como Jesus nos amou.

Por que é necessário acreditar em Jesus?  Porque em Jesus é Deus mesmo quem sai ao nosso encontro para nos reconciliar.  Acreditar em Jesus Cristo é «o caminho para poder chegar de modo definitivo à salvação»[8].  Cremos nele porque é o «único Salvador do mundo»[9], e por isso em Jesus nossos sofrimentos e alegrias, nossas tristezas e gozos, nossos desejos e esperanças, são escutados e definitivamente encontram sentido.  O Apóstolo São Paulo nos dá um testemunho do que significa crer em Jesus, de ter feito Dele o centro da própria vida: «Esta vida que vivo na carne a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gal 2,20).

CITAÇÕES PARA A ORAÇÃO:

Como devemos viver o Advento: Rm 13,11-15; Flp 4,4-5; 2Cor 4,16-18.

O que celebramos no Natal: Jo 1,1-18; Tito 3,4; Is 9,1-3.5-9

Como devemos acolher Jesus: Lc 1,38; Ap 3,20; Mt 2,10-12

O sinal do Messias: Is 7,14; Mt 1,23.

A fé em Jesus Cristo: Jo 6,29; 14,1; At2,36; 2Tim 1,12;Gal 2,20;1Jo 3,23.

PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO

 Quão consciente você é do mistério que celebramos no tempo de Natal?

  1. O que significa em tua vida que Deus tenha-se feito homem para te salvar?
  2. Como você está preparando-se para viver o Natal?
  3. Quanto influi em ti e em tua família o consumismo comercial no Natal?

TRABALHO DE INTERIORIZAÇÃO

  1. Lê e medita com atenção a seguinte passagem bíblica: «Ao sexto mês foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de Davi; o nome da virgem era Maria. E entrando, disse-lhe: “alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”.  Ela se perturbou com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria aquela saudação.  O anjo lhe disse: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus; vais conceber no seio e vais dar à luz um filho, a quem porás por nome Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; Ele reinará sobre a casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”.  Maria respondeu ao anjo: “Como será isto, posto que não conheço varão?” O anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso o que tem que nascer será santo e será chamado Filho de Deus.  Veja, também Isabel, tua parente, concebeu um filho em sua velhice, e este é já o sexto mês daquela que chamavam estéril, porque nada é impossível para Deus”.  Disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo sua palavra”.  E o anjo deixando-a se foi» (Lc 1,26-38).
    • És verdadeiramente consciente de que Deus se encarnou no Seio da Virgem Maria para te trazer a salvação?
    • Tu respondes à iniciativa de Deus com um faça-se como o de Maria?
  2. Reflete a seguinte passagem bíblica: «Nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, uns magos que vinham do Oriente se apresentaram em Jerusalém, dizendo: «Onde está o Rei dos judeus que nasceu? Pois vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lO».  Eles se puseram a caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que chegou e se deteve em cima do lugar onde estava o menino.  Ao ver a estrela encheram-se de imensa alegria.  Entraram na casa; viram o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, adoraram-nO; abriram logo seus cofres e lhe ofereceram dons de ouro, incenso e mirra.  E, avisados em sonhos que não voltassem a Herodes, retiraram-se para seu país por outro caminho.» (Mt 2,1-3.9-12).
    • Este tempo de Natal, é um tempo de alegria e júbilo para ti pelo nascimento do Salvador?
    • De que maneira, à semelhança dos reis magos, vais ao encontro do Senhor que veio para te salvar?
  3. Lê o seguinte texto do Papa Bento XVI:

«Temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas quotidianos. A fé oferece-nos precisamente isto: é um entregar-se confiante a um «Tu», que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exato ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e confiança. Sem dúvida, esta adesão a Deus não está isenta de conteúdos: com ela estamos conscientes de que o próprio Deus nos é indicado em Cristo, mostrou o seu rosto e fez-se realmente próximo de cada um de nós. » (S.S. Bento XVI, Catequese, 24/10/2012).

  • Como é tua fé? É só uma aceitação intelectual?
  • Crês em Deus e confias em Deus?
  • Tu te entregas a Deus com uma livre confiança como quem confia no mais próximo de seus amigos?

[1] Is 7,14.

[2] Mt 1,23.

[3] Bento XVI, Audiência geral, 24/10/2012.

[4] Idem-idem

[5] Catecismo da Igreja Católica, 156

[6] Bento XVI, Audiência geral, 24/10/2012.

[7] Idem-idem

[8] Bento XVI, Porta fidei, 3.

[9] Idem-idem, 6.

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