Caminho para Deus 209 – Apostolado em primeira pessoa

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APOSTOLADO EM PRIMEIRA PESSOA

Chamados ao apostolado

Todo cristão tem sua própria história pessoal de encontro com o Senhor Jesus. Assim como fez com cada um dos apóstolos, o Senhor Jesus sai a nosso encontro e nos chama por nosso próprio nome. Ao constatar o mistério insondável de Deus que se fez homem e que, nos amando até o extremo, padeceu, morreu e ressuscitou para nos trazer a reconciliação, experimentamos uma alegria que não pode ser contida. É Ele mesmo quem se fixa em cada um de nós e, nos amando sem medida, deu tudo por nossa salvação. Nele encontramos o sentido de nossas vidas, a felicidade a que tanto ansiamos no profundo de nossos corações: «É o Senhor!» [1], e o «Filho de Deus que me amou e se entregou a si mesmo por mim» [2].

O impulso apostólico brota desse encontro pessoal com Jesus. O Senhor é a Boa Nova que não podemos guardar para nós, pois «ninguém acende uma lâmpada e a encobre com uma vasilha, ou a põe debaixo de uma cama, senão que a põe sobre um candeeiro, para que os que entrem vejam a luz» [3]. Quem recebeu a luz de Cristo quer que todos sejam iluminados por ela. De fato, o Senhor Jesus apresenta a missão do apóstolo como quem compartilha o que recebe: «Ide por todo mundo e proclamai a Boa Nova a toda a criação» [4].

A importância do testemunho

Acolher à Boa Nova em nossos corações significa que toda nossa existência deve ser transformada. Não basta alegrar-se superficialmente, ou viver uma euforia passiva ou momentânea. A vida cristã deve tornar-se vida permanente em nós, de modo que possamos proclamar com o Apóstolo «não sou eu que vivo, e sim é Cristo quem vive em mim»[5]. O cristão deve irradiar com sua própria vida o fato de que em Cristo foi transformado: «Vós sois a luz do mundo. Não pode ser ocultada uma cidade situada acima de um monte… Brilhe assim vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus»[6].

Devemos, pois, procurar ser sempre um testemunho vivo de que o Senhor veio para nos salvar, de que o amor e a esperança são uma realidade hoje. Isto «constitui já por si uma proclamação silenciosa, mas, também, muito clara e eficaz, da Boa Nova»[7]. Muitos se perguntam: por que vivem assim? Quem os inspira? Por que se preocupam conosco sem esperar nada em troca? Estas e muitas outras perguntas podem se converter em germe que predisponha a acolhida do Senhor Jesus.

Um anúncio explícito

Contudo, «isto segue sendo insuficiente, pois o mais formoso testemunho se revelará depois impotente se não é esclarecido, justificado ―o que Pedro denominava dar “razão de vossa esperança”[8]―, explicitado por um anúncio claro e inequívoco do Senhor Jesus»[9]. A Boa Nova que proclamamos com nosso testemunho de vida, tem que ser, cedo ou tarde, anunciada pela Palavra de Vida. Não há evangelização verdadeira, enquanto não anunciamos o nome, a vida e as obras, as promessas, e tudo o que Jesus de Nazaré, o Filho do Pai, fez por nós.

Os Apóstolos, depois de Pentecostes, nos dão testemunho disso já que «não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa Nova de Cristo Jesus cada dia no Templo e pelas casas»[10]. Por isso, nós também devemos realizar um anúncio explícito do Senhor e de seu mistério reconciliador, segundo as capacidades e possibilidades de cada um.

Apostolado em primeira pessoa

A Igreja realiza este anúncio explícito de diversas formas (a pregação viva, a catequese, a Liturgia da Palavra, etc…). Além do que poderíamos, porém, denominar de proclamação coletiva ou comunitária do Evangelho, é necessário observar a importância da transmissão da Boa Nova de pessoa em pessoa.

O Senhor Jesus em diversas ocasiões nos ensinou como realizar este apostolado pessoal. Assim o demonstram os encontros com a Samaritana, Simão o fariseu, Nicodemo ou Zaqueu, entre outros. Os apóstolos, tendo sido eles mesmos chamados em primeira pessoa, também o fizeram vivamente desde o início: «André, o irmão de Simão Pedro, era um dos que haviam ouvido a João e haviam seguido a Jesus. Este se encontra primeiramente com seu irmão Simão e lhe diz: “Encontramos o Messias”, que quer dizer, Cristo»[11].

Um testemunho paradigmático deste apostolado encontramos em Santa Maria, a Mãe de Jesus e sua primeira discípula. Ela, Educadora de nossa Fé, nos ensina como testemunhar e anunciar o seu Filho em primeira pessoa. Toda sua vida é um testemunho do Senhor. Toda Ela nos dirige constantemente para Jesus: «E ocorreu que, enquanto ouviu Isabel a saudação de Maria, saltou de alegria o menino em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; e exclamando com grande grito, diz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre; e donde me vem que a mãe do Senhor me visite»[12]. A Virgem Mãe com apenas sua presença se converte Ela mesma em anúncio. E de modo semelhante, nas bodas de Caná não só vive a realidade de anúncio senão que dá um passo a mais, ensinando-nos como devemos fazer para nos tornar partícipes dessa Boa Nova que é o Senhor Jesus seu Filho: «Fazei o que Ele vos pede» [13].

Ter recebido o dom da reconciliação deve nos mover a compartilhá-lo. O Papa Paulo VI se perguntava: «há outra forma de comunicar o Evangelho que não seja transmitir a outro a própria experiência de fé?»[14]. O apostolado não é a transmissão de uma história ou de umas leis, não é uma teoria que se possa aprender.

É antes de tudo compartilhar a experiência de um encontro pessoal que mudou nossas vidas. Nesse encontro escutamos a Palavra, acolhemos e procuramos torná-la vida. A Palavra faz nascer em nós uma adesão sincera de mente, coração e ação. «Eis a prova da verdade, a pedra de toque da evangelização: é impensável um homem que tenha acolhido a Palavra e se entregue ao reino não converter-se em alguém que por sua vez dá testemunho e anuncia» [15]

O Senhor Jesus nos convida a viver esta realidade de anúncio em nossas vidas. Anúncio que deve ser alegre, reverente, sincero, desinteressado, próximo, amigável. Anúncio que é consciente de que o Espírito Santo é o agente principal da evangelização. Ele é quem impulsiona a cada um a anunciar o Evangelho e quem atua no profundo das consciências para que aceitemos e compreendamos a Palavra de salvação[16]. E, também, é só através d’Ele que «a evangelização penetra nos corações, já que Ele é quem faz discernir os sinais dos tempos ―sinais de Deus― que a evangelização descobre e valoriza no interior da história»[17].

Junto à Mãe vivamos um apostolado comprometido. Imitemo-la na missão de anunciar o seu Filho ao mundo, de modo que repitamos com São Paulo: «pregar o Evangelho não é para mim nenhum motivo de glória; é mais um dever que me incumbe. E ai de mim se não pregar o Evangelho!»[18].

CITAÇÕES PARA MEDITAR

Guia para a Oração

• Chamados ao apostolado: Lc 8,16; Mc 16,15; Lc 4,18-19
• A importância do testemunho: Mt 5, 14.16
• Anúncio explícito: 1Pe 3,15; At 5,42
• Anúncio em primeira pessoa: Jo 1,40-41; 4 5-29; Lc 1,41-44

PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO

1. Como és consciente da importância do chamado ao apostolado?
2. Buscas dar um testemunho de vida cristã nas circunstâncias concretas de tua vida?
3. Anuncias explicitamente o Senhor às pessoas com as quais vive, trabalha, estuda?
4. O que podes fazer para realizar melhor um apostolado “em primeira pessoa”?

________________________________________
[1] Jo 21,7
[2] Gl 2,20
[3] Lc 8,16
[4] Mc 16,15
[5] Gl 2,20
[6] Mt 5,14.16
[7] S.S. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi,21
[8] 1Pe 3,15
[9] S.S. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi,22
[10] At 5,42
[11] Jo 1,40-41
[12] Lc 1,41-44
[13] Jo 2,5
[14] S.S. Pablo VI, Evangelii Nuntiandi,46
[15] Ib.,24
[16] Ver Ad gentes,4
[17] S.S. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi,75
[18] 1Cor 9,16


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