Caminho para Deus 202 – Identidade e missão do MVC

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Refletir sobre nossa identidade e missão constitui uma magnífica ocasião para voltar o olhar para aqueles elementos essenciais que definem quem somos como Movimento de Vida Cristã, para aprofundar neles e lançar-nos com renovado ardor à nossa tarefa apostólica. Identidade e missão são duas dimensões que se reclamam e se enriquecem mutuamente, e que, portanto devemos viver em fecunda complementaridade.

 A forte afirmação da própria identidade e a consciência clara de ter recebido uma missão a ser levada adiante fazem que para muitas pessoas nós sejamos um verdadeiro sinal de contradição. São tantas as forças que hoje em dia procuram diluir tudo! Podemos assinalar, entre outras, o chamado “pensamento débil” (conhecido como pensiero debole, NdT); o medo endêmico ao compromisso sério e duradouro; as fortes correntes que apresentam um horizonte totalmente voltado ao fazer, sem nenhuma consideração pela natureza das coisas, e que facilmente se deslizam em um ativismo superficial e meramente horizontal; o sempre atrativo e tentador panorama de construir para si um futuro de êxito e renome apenas com o esforço e luzes pessoais. Todas estas são atitudes e características muito freqüentes na cultura atual que podem afetar em distintos graus a firmeza de nossa identidade e missão. Ser, pois, fiéis à nossa identidade e à nossa missão é ainda mais urgente no mundo de hoje, caracterizado por tanta confusão e relativismo.

Um carisma ao serviço da Igreja

Como MVC somos em primeiro lugar uma porção da Igreja. Nossa identidade só se entende dentro da comunhão eclesiástica, e nossa missão apostólica é cooperação ativa na missão apostólica da Igreja. Como porção da Igreja, o MVC é um importante ramo na árvore da Família Sodálite, nutre-se da seiva vital de seu carisma, e compartilha uma espiritualidade e um estilo próprio que foram reconhecidos como um caminho válido para alcançar a santidade e exercer o apostolado.

 Por isso é tão importante, como miras de fortalecer nossa identidade, que reflitamos e aprofundemos constantemente nos acentos próprios e constitutivos do nosso caminho espiritual. Nunca será uma lição acabada, pois o horizonte é imenso e nos convida a ir sempre mais adiante. A tarefa que temos diante do mundo nos exige isso. A fidelidade às nossas raízes será a garantia de que nosso desdobramento apostólico expresse autenticamente o carisma que recebemos e possa dar, pela força do Espírito Santo, muitos frutos de santidade e conversão.

 Vida cristã

 É igualmente fundamental que reflitamos e aprofundemos no nome específico do nosso movimento: Vida Cristã. O nome remete a algo essencial: à vida em Cristo, a que o Senhor Jesus esteja verdadeiramente no centro da nossa vida. Nossos Estatutos explicitam que procuramos ser «um espaço comunitário de encontro com o Senhor que facilite uma autêntica e comprometida vida cristã que se projete sob a guia da Santa Maria na vida testemunhal, no anúncio da fé e na promoção humana à luz do Evangelho e do ensinamento da Igreja». [1] O compromisso por levar uma vida cristã autêntica, que supere o hiato entre fé e vida e que se projete em um apostolado ardoroso constitui, pois, a tarefa fundamental de todo emevecista. Nosso Fundador nos recordava em sua Catequese em São João de Latrão que nós nascemos com o desejo «de viver cristãmente, mais ainda, de que a própria vida tivesse a Cristo como centro e fonte, de viver com Ele e por Ele, de viver da vida de Cristo, em síntese, de viver a vida cristã».

Para crescer e aprofundar neste horizonte, para conformar-nos com o Senhor Jesus, para fazer d’Ele realmente o centro de nossas vidas, os membros do MVC fomos presenteados como um formoso caminho espiritual: o processo de amorização. Expresso sinteticamente em um de nossos lemas -Por Cristo a Maria e por Maria mais plenamente ao Senhor Jesus-, este atalho convida a “amorizar-nos”, quer dizer, transformar nossas vidas com o amor que o Espírito Santo derramou em nossos corações [2]. Começando por viver a piedade filial, amando Maria como Jesus a ama, nos vemos matriculados na escola da Maria, e devolvidos pela Mãe a um amor mais pleno pelo Senhor Jesus, a um encontro mais profundo com Ele. Assim seus amores fundamentais se tornam nossos: amor ao Pai no Espírito; a Maria sua Mãe; e a todos os irmãos humanos. Da vivência intensa do mistério do amor brota a urgência de comunicar esse dom, de anunciá-lo a quantos mais possamos, de fazê-lo concreto em nosso serviço evangelizador e solidário.

 Santidade, serviço, apostolado

 Estas três palavras nos remetem a uma sintética expressão de nossa identidade e projeção apostólica que constitui ao mesmo tempo todo um programa de vida: «o desejo por viver a santidade, o ardoroso compromisso pelo apostolado e a entrega generosa e fraterna no serviço».

 Conscientes de que ninguém dá o que não tem, nossa primeira tarefa é trabalhar seriamente por nossa própria santidade, pondo todos os meios ao nosso alcance para cooperar com a graça do Senhor e permitir que o Espírito nos configure com o Senhor Jesus. Viver assim, em comunhão com o Senhor e abertos ao seu Plano, move-nos a testemunhar e anunciar a fé, fazendo apostolado, configurando nossa vida em um serviço concreto de amor a Deus e fraterna solicitude pelos irmãos. No horizonte de cooperar a reconstruir todo o mundo desde seus alicerces [4] nossos acentos apostólicos [5] iluminam nossa projeção e são guia clara para nosso desdobramento.

 O que podemos fazer para nutrir-nos permanentemente de nossa identidade e renovar nosso ardor e entrega à missão?

 Em primeiro lugar, rezar intensamente e aprofundar nosso processo pessoal de conversão, para assim cooperar para que a graça de Deus vá nos transformando e conformando ao Senhor Jesus. Nosso primeiro anúncio evangelizador será o testemunho de uma vida coerente centrada no Senhor Jesus. Neste sentido, são de particular importância os meios que nossos Estatutos nos propõem para avançar no caminho de santidade, de serviço e de apostolado [6].

 Do mesmo modo, será de muita ajuda manter um contato permanente com aqueles documentos que expressam de maneira clara e sintética nossa identidade, como por exemplo o livro «Movimento de Vida Cristã. O que é?», as mensagens e conferências que nosso Fundador nos dirigiu, assim como outros textos fundamentais da espiritualidade sodálite. Este exercício será sempre muito frutífero para fortalecer nossa identidade, procurando ser fiéis ao dom recebido, e ver-nos renovadamente lançados à missão.

 Outro aspecto que exige da nossa parte um constante exame é o nosso compromisso apostólico. A «identidade do MVC está selada por sua vocação ao apostolado» [7]

Viver o compromisso apostólico em primeira pessoa já é estar em íntimo contato com aquilo que somos e com a missão para a qual nos suscitou o Espírito: anunciar o Evangelho da Reconciliação em todas as realidades da sociedade e até às raízes da cultura do homem. Os medos, tibiezas e meias tintas no apostolado não fazem mais que diluir nossa identidade e debilitar a missão que nos foi confiada. Pelo contrário, o ardor, o arrojo apostólico, a autenticidade no compromisso, fortalecem nossa identidade e nos empurram mar dentro no horizonte da missão.

PASSAGENS BÍBLICAS PARA MEDITAR

Guia para a Oração

 O Senhor Jesus sabe quem é e para que veio ao mundo: Jo 3,11-21; 4,34; 5,36; 8,12-14

Permanência e fecundidade apostólica no Senhor Jesus: Jo 14,12; 15, 1-8. 16

Chamado à santidade: Mt 5,48; 1Pe 1,15-16; Lv 19,2

Anunciar o Senhor Jesus em primeira pessoa: Gl 2,20

Viver uma vida cristã cotidiana: At 2,42-47

 PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO

 1. Que relação(ões) poder-se-ia(m) estabelecer entre identidade – missão e permanência – desdobramento?

2. Quais meios concretos posso colocar em prática para fortalecer minha identidade como emevecista?

3. Como posso, desde minha realidade e circunstâncias, contribuir mais na missão do MVC?

4. Quais aspectos concretos da realidade cultural em que vivo poderiam debilitar nossa identidade cristã e debilitar nosso compromisso na missão? O que posso fazer diante disto?

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 [1] Estatutos, n. 7

[2] Ver Rm 5,5

[3] Movimento de Vida Cristã. O que é?, FE, Lima 2009, p. 7

[4] Ver S.S. Pio XII, Por um mundo melhor, 10/2/1952, 4

[5] Ver Movimento de Vida Cristã. O que é?, pp. 27-44

[6] Ver Estatutos, n. 8

[7] Estatutos, n.7

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