Caminho para Deus 120 – As Resoluções

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Deus nos chama a sermos santos como Ele é santo[1]. Sabemos bem disso. Mas também sabemos que não basta conhecer a meta assinalada, nem basta escutar o convite… temos que desejá-la com ardor! Pois se não se tem um ideal, não se faz nada, e se não se ama o ideal que se tem, tampouco nada se faz.

Quem não se propõe ser santo e quem não anseia a santidade para si com ardor, não somente não avançará, como também retrocederá, afastando-se cada vez mais do caminho que conduz à verdadeira Vida e felicidade do ser humano. Por outro lado, quem quer o fim, põe os meios, diz um ditado. Não bastam tampouco os bons propósitos e intenções: é necessário passar à ação decidida! Temos que cooperar em todo momento com a graça recebida, pondo os meios adequados para que o Senhor vá promovendo em nós a almejada santificação!

Deus espera nossa cooperação

A santidade é sobretudo obra de Deus em nós. Contudo, Deus quis que nossa santificação seja também em parte obra nossa. Ele não nos santificará se a partir de nossa pequenez e fazendo um uso correto de nossa liberdade não prestarmos nossa ativa cooperação. Por isso não podemos deixar de trabalhar esforçadamente por nossa própria santificação[2], conscientes de que trabalharíamos em vão[3] se Deus mesmo não nos assistisse com sua graça, se não a pedíssemos com insistência e humildade.

Neste contexto, as resoluções têm uma importância fundamental para nossa santificação.

O que são as resoluções?

Uma resolução é o que alguém se propõe fazer, um propósito, uma ação concreta que vai ser realizada no futuro. Também chamamos as resoluções de “meios concretos”. Meios porque conduzem ao fim, que é a santidade.

Ao conhecer e amar o Senhor Jesus, brota naturalmente em nossos corações o desejo de nos assemelhar-nos Àquele que é o Modelo de plena humanidade. E ao querer ser como Ele percebo que devo mudar algumas coisas em mim, despojar-me de pensamentos anti-evangélicos, de critérios mundanos, de afetos desordenados, de vícios e pecados, para assumir Seus pensamentos, Seus critérios, Seus sentimentos e “revestir-me” de Suas virtudes. Deste desejo e confrontação brotam as resoluções: “farei isto ou aquilo, com o objetivo de assemelhar-me cada vez mais ao Senhor Jesus, em quem creio e a quem tanto amo”.

Qual é sua importância?

As resoluções firmes, decididas, levam à ação. É por elas que avançamos para a meta da santidade. Se comparamos a vida cristã a uma corrida, podemos dizer que cada resolução que tomamos e pomos em prática é um passo que damos. As resoluções vão nos aproximando da santidade como os passos aproximam o corredor da meta. Se nos faltam as resoluções, ou se deixamos de cumpri-las, somos como um velocista que mira a meta, almeja-a, quer ganhar o prêmio, mas não dá nem um passo, ou somente dá uns poucos e se detém… Quem, na corrida da vida, quer alcançar o prêmio eterno, deve despojar-se de todo lastro de pecado[4], esquecer o que deixou atrás e lançar-se continuamente para frente, para conquistar a meta[5].

Não podemos esquecer que não bastam as boas intenções se queremos ser santos. É insuficiente o desejo de amar o Senhor e amar o próximo se não se passa à ação. «Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus»[6], adverte o Senhor. De que serve a fé sem obras?, pergunta o apóstolo Tiago[7]. A fé que não se mostra cada vez mais nas obras concretas de caridade, nas necessárias mudanças de maneiras de pensar e sentir, de conduta, no progressivo abandono dos vícios e crescimento nas virtudes, é uma fé falsa, vazia, morta, que não conduz à Vida. Pelo contrário.

Características das resoluções

As resoluções devem ser realistas. De nada serve propor-me um meio que está
destinado a não ser cumprido já desde o momento em que o proponho. Se meus objetivos são demasiado altos e irreais, corro o risco de logo cair no desânimo. Devo propor-me meios que eu possa cumprir. Tampouco posso acostumar-me a não cumprir os meios que me proponho. Ao contrário, devo ganhar o hábito de ser fiel às resoluções que o Senhor me inspira no momento oportuno.

Devem ser eficazes, quer dizer, devem ser capazes de conseguir o fim que desejo, de produzir em mim as mudanças necessárias. Não se combate um câncer com aspirinas, mas com uma quimioterapia adequada ou outro meio semelhante. Às vezes adotamos meios que são insuficientes para abandonar um vício ou para crescer em uma virtude. Os meios devem ser adequados ao vício que queremos deixar, ou à virtude que queremos adquirir.

Devem ser concretas, precisas. De nada servirá que eu me proponha meios vagos e imprecisos, resoluções gerais, como: “ser mais caridoso”, “amar mais a Deus”, “viver melhor”… Devo poder dizer ao fim do dia, ao examinar-me: “fiz o que pretendia” ou “não fiz”. Exemplos de resoluções concretas são: “hoje mesmo pedirei perdão a esta pessoa que ofendi”, “rezarei a tal hora”, etc.

Devem ser imediatas, quer dizer, para hoje, não para a semana seguinte.

As resoluções e a “oração mental”[8]

Sabemos que podemos tomar uma resolução a qualquer momento. Contudo, um momento privilegiado para tomar uma resolução é no âmbito da oração.

Na “oração mental”, depois de considerar a palavra do Senhor em si mesma e depois de aplicá-la à minha própria realidade, refletindo sobre o que me quer dizer nas circunstâncias concretas de minha vida (fé na mente), abro-me aos afetos que essas considerações suscitam em mim (fé no coração): amor, gratidão, humildade, desejo de santidade, ardor apostólico, compaixão, dor de coração, etc. As considerações (reflexão, meditação) e afetos na oração têm a virtude de suscitar e garantir em nós uma resolução (fé na ação). Deste modo, a conclusão natural da oração é tomar uma resolução com toda a energia e o valor que a graça pode ter produzido em nosso Espírito pela meditação. A solidez de nossas resoluções depende da força dos motivos que as determinam e da maior ou menor impressão que os motivos causaram no coração.

Tomo as resoluções ao comparar-me com o Senhor Jesus e com Santa Maria. As perguntas essenciais que me acompanham no momento de buscar uma resolução são: O que me sobra? Quer dizer, que pensamentos mundanos, sentimentos maus, atitudes pecaminosas eu tenho, que eles não têm? E o que me falta? Quer dizer, que pensamentos, sentimentos e virtudes Jesus e Maria têm, que eu não tenho? Proponho despojar-me do que me sobra e proponho revestir-me do que me falta. Apontam neste sentido as resoluções que, uma vez tomadas, devo procurar praticar com fidelidade, buscando na graça do Senhor o apoio e a força necessária.

Algumas recomendações práticas

Quando você rezar todos os dias —porque convém que você reze todos os dias— não é necessário, às vezes nem sequer é conveniente, que você mude de resolução a cada dia. De acordo com a importância da resolução que você acha que deve adotar para avançar no caminho da santidade e da fidelidade ao Plano de Deus, muitas vezes o mais conveniente será não tomar outras resoluções mas renovar a mesma, até chegar a cumpri-la perfeitamente, até que se torne um hábito suficientemente forte para que você possa passar a tomar outra resolução.

Quando se trata de tomar resoluções importantes ou difíceis, é bom pensar no valor de nosso Senhor nas grandes resoluções que tomou e executou para glória de seu Pai. Nada pôde apartá-lO de sua determinação de assumir a Cruz. Ele se sobrepôs a todas as dificuldades que se apresentaram. Os temores e angústias que experimentou não quebrantaram sua constância, e mesmo tendo que sofrer enormemente, não consentiu em suspender nem por um momento a execução do que tinha resolvido. Que exemplo para nós!

Não devemos menosprezar os meios pequenos, humildes e simples. A fidelidade se constrói nem tanto pondo meios “heróicos” (que chegado o momento são necessários), mas na perseverança diária dos meios simples.

Não devo propor-me muitos meios ou tomar muitas resoluções de cada vez, mas somente uma ou duas no máximo.

A necessária renovação de resoluções

Muitos são os obstáculos que encontramos para a perseverança em nossas resoluções: a preguiça, a negligência, o cansaço, a fraqueza, o esquecimento, o consentimento da tentação, a fragilidade ante as seduções do mundo, a força do mau hábito ou do vício que continuamente nos coloca em conflito, o desalento, a perda do entusiasmo inicial ou força interior que percebíamos depois de um retiro ou de uma oração intensa… Quantas coisas parecem conspirar contra nossa perseverança!

Quando sob mil pretextos aparecer a sugestão que o convida a abandonar a resolução que você tomou, embora seja “só por esta vez”, rechace-a de imediato e persevere com maior firmeza na sua resolução, buscando no Senhor a força que você não encontrará em si mesmo. E, na oração, renove continuamente suas resoluções, pedindo ao Senhor que lhe conceda a graça de perseverar nelas. Sim, para que os meios sejam eficazes, devemos renová-los com a constância necessária, para assegurá-los em nós e para que se tornem hábitos de virtude.

Citações para a oração

  • Nossa vocação e nossa meta é a santidade: Lv 11,44-45; 19,2; 20,7.26; Mt 5,48; 1Cor 1,2; 1Ts 4,3; 1Pd 1,15-16
  • É Deus quem nos santifica: Lv 20,8; Hb 2,11. 
  • Sem Ele nada podemos: Sl 127,1; Jo 15,4-5.
  • Mas também nos chama a cooperar na obra de nossa própria santificação: Fl 2,12.
  •  As obras concretas são necessárias para a salvação: Mt 7,21; Lc 6,46; Tg 2,14ss.
  • O encontro com o Senhor leva à mudança de vida, a propor resoluções concretas: Lc 19,8; Jo 5,14; 8,11; 21,15; 
  • Outros exemplos de resoluções concretas: Lc 3,10-14.

 

 Perguntas para o diálogo

1.  A santidade é o seu ideal de vida?

2.  Você é consciente da importância de sua cooperação com a graça? Como você costuma cooperar com ela?

3.  Que são as resoluções? Você costuma tomá-las?

4.  Qual é a importância das resoluções?

5.  Revise as características das resoluções. Suas resoluções pessoais têm estas características?

6.  O que lhe ensinam o Senhor Jesus e Santa Maria sobre a tomada das resoluções?

7.  Por que é necessário renovar nossas resoluções?

 INTERIORIZANDO

“Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso?” (Tg 2,14)

“Se não se tem um ideal, não se faz nada, e se não se ama o ideal que se tem, tampouco nada se faz”.

  • Que ideal você tem em sua vida?
  • Que importância tem em sua vida o ideal da santidade?

O ideal da santidade deve levar-nos a pôr meios concretos e adequados, que nos ajudem a cooperar ativamente com a graça que o Senhor derrama abundantemente em nossos corações. Por isso o tema das resoluções tem uma grande importância.

  • O que são as resoluções?
  • Qual é a importância das resoluções para a sua vida concreta?
  • Você costuma tomar resoluções para crescer em sua vida cristã?

O apóstolo Tiago nos diz em sua carta: “Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo?” (Tg 2,14).

  • Que ensinamentos este texto bíblico lhe dá?

Lemos no texto que as resoluções têm algumas características: devem ser realistas, eficazes, concretas e imediatas.

  • Suas resoluções, costumam ter estas características?
  • O que você pode fazer para melhorar suas resoluções?

Na hora de tomar grandes resoluções, vemos no Senhor Jesus e em Santa Maria um grande exemplo de valor, constância e generosidade.

  •             O que o Senhor Jesus ensina a você na tomada de resoluções?
  •             E o que te ensina Santa Maria?

É importante não somente tomar uma resolução, mas perseverar, sempre, nela. Por isso é tão importante a renovação das resoluções.

  •             Você costuma renovar suas resoluções?
  •             Que resoluções concretas que você tomou devem ser agora renovadas?

Peçamos a nossa Mãe que interceda por nós, para que o Senhor nos obtenha a graça que necessitamos e que nós, por meio de nossas resoluções, cooperemos ativamente com ela.

 Para ser melhor

Auxílio dos pecadores,
sempre disposta ao perdão
e à intercessão,
obtém-me as graças
que me sejam necessárias
para encaminhar retamente a minha vida,
rejeitar energicamente o pecado,
fugir de suas ocasiões
e colocar os melhores meios
para purificar-me
segundo o desígnio divino
e assim encaminhar-me
em direção daquele é a própria Vida.
Amém.

 


[1] Ver Lv 11,44-45; 19,2; 20,7.26; Mt 5,48; 1Cor 1,2; 1Ts 4,3; 1Pd 1,15-16

[2] Ver Fl 2,12.

[3] Ver Sl 127,1.

[4] Ver Hb 12,1-2.

[5] Ver Fl 3,13-14.

[6] Mt 7,21.

[7] Tg 2,14.

[8] Ver o método proposto no Caminho para Deus, textos para meditar, Vida e Espiritualidade, Lima 1997, Tomo I, pp. 165-167 (ou Tomo II, pp. 151-153).

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