A reverência nos mistérios luminosos

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Meditamos hoje em companhia de Maria numa atitude fundamental para o cristão: a reverência para com Deus, para consigo mesmo e para com os irmãos humanos. Pela reverência superamos um olhar superficial sobre a realidade, aprendendo sempre a ir ao essencial, àquilo que muitas vezes é invisível aos olhos, mas não para o coração.

 

A reverência, uma atitude fundamental.

“João lhes respondeu: “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália”” (Jo 1,26-27).

São João Batista no primeiro mistério é exemplo de atitude reverente perante a vida. Em primeiro lugar, ele escuta e responde o chamado de Deus para ser o precursor do Messias. Em segundo lugar, ele também vive em sintonia consigo mesmo, sabe quem ele é: “Eu sou a voz que clama no deserto”, dizia, preparando os caminhos para o Verbo, que é Jesus, o Messias. Finalmente, é também um homem atento aos seus semelhantes, chamando-os à conversão e indicando-lhes Jesus como a única resposta para seus anseios: “Eis o Cordeiro de Deus”, disse a João e a André, que a partir daquele momento se tornaram discípulos do Senhor.

 

Santa Maria: mulher reverente.

“Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Lc 2,3-5).

A reverência nos leva a sair de nós mesmos, do nosso mundinho mesquinho e tranquilo. Nas Bodas de Caná, Maria aparece como a mulher reverente, atenta diante das necessidades dos seus próximos. Ela também sabe pedir com confiança e intimidade ao seu Filho, intuindo que Ele fará o milagre, mesmo quando suas palavras parecem indicar o contrário. Mas tudo isso só é possível porque Maria transita um caminho que começou na Anunciação, ou quiçá antes, o caminho da reverência para com seu próprio coração, que lhe permitiu responder com um sim generoso ao Plano de Deus, e prolongar esse sim em todos os momentos da sua vida.bodas-canaicono-cana

 

O Senhor Jesus nos ensina a ser reverentes.

“Enquanto isso, os discípulos rogavam-lhe: “Rabi, come!” Ele, porém, lhes disse: “Tenho para comer um alimento que não conheceis”. Os discípulos se perguntavam uns aos outros: “Por acaso alguém lhe teria trazido algo para comer?” Jesus lhes disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra”” (Jo 4,31-35).

O encontro com a Samaritana é um de tantos encontros nos quais o Senhor Jesus nos dá exemplo de reverência. Muitas vezes colocamos como desculpa o próprio cansaço, as limitações pessoais, os problemas, para não olhar para além de nós mesmos, para deixar de lado o apostolado. Na passagem da Samaritana, Jesus ensina aos discípulos que o autêntico alimento é fazer a vontade do Pai, e que a sua missão é oferecer a todas as pessoas aquilo que ofereceu à Samaritana: aquela água viva, que nunca se esgota, mas que jorra para a vida eterna.

 

A reverência para com os sinais de Deus.

“Com efeito, não foi seguindo fábulas sutis, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade, que vos demos a conhecer o poder e a Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando uma voz vinda da sua Glória lhe disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Esta voz, nós a ouvimos quando lhe foi dirigida do céu, ao estarmos com ele no monte santo” (2Pd 1,16-18).

A reverência também nos torna sensíveis às bênçãos de Deus em nossas vidas. É importante cada dia fazer o esforço por lembrar e agradecer tudo o que o Senhor nos concede cada dia. O momento da transfiguração, da manifestação da glória e da divindade do Senhor, foi importante para Pedro, João e Tiago, mas também para todos nós. O nosso destino é a eternidade no Reino de Deus, e esse Reino já está presente em meio de nós, de muitas formas. Somente os reverentes, os que não se satisfazem com uma visão superficial, chata da realidade, são capazes de perceber essa presença misteriosa, mas real.

 

A Eucaristia, escola de reverência.

“Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a tua infância conheces as sagradas Letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus (…) Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tim 3,14-15.4,6-7).

A vida litúrgica da Igreja e em especial a Eucaristia, que é a sua fonte e o seu cume, é um tesouro que nós recebemos e que estamos chamados a guardar e custodiar fielmente. Ela nos lembra de que a realidade tem uma lógica e um sentido que nós podemos conhecer e que Deus, fundamento dessa realidade, tem um rosto e uma voz muito concretos, que veem ao nosso encontro e aos quais nós podemos responder. A nossa história, a nossa experiência humana e cristã, são assim também integradas na história do Povo de Deus e a nossa voz se junta a de tantos irmãos e irmãs, no coro de vozes conformado por todos os que fazem parte da Igreja peregrina, purgante e triunfante, dando assim glória a Deus.

Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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